terça-feira, 23 de agosto de 2011

Conclusões de fim de Feira




Matéria sensata a do jornalista Pedro Rocha publicada hoje no jornal O Povo, comentando inclusive o manifesto de músicos ocorrido no sábado (conferir vídeo acima), último dia de Feira da Música. Gostaria de reproduzi-la aqui:


Feira da música independente

Surgida em 2002, já com o objetivo de promover e discutir o mercado da música no País, a Feira da Música encerrou a 10ª edição no último sábado, seguindo a receita de ser ao mesmo tempo um espaço de formação dos músicos, de articulação entre os diferentes pontos da cadeira produtiva e uma vitrine da música independente.


Em quatro dias de programação, mais de 30 bandas do país inteiro passaram pelos três palcos montados no Dragão do Mar e entorno, várias oficinas foram realizadas e temas contemporâneos da música no contexto das mídias digitais debatidos nos painéis do evento, além da Rodada de Negócios estimular negociações entre produtores, músicos e outros profissionais da área.


O corte de R$ 130 mil do orçamento cinco dias antes da abertura do evento na última quarta – corte causado pela inadimplência com a União da Secretaria de Turismo do Governo do Estado, mediadora do convênio da Feira com a Fundação Nacional de Artes (Funarte) – impulsionou ainda mais na Feira da Música deste ano o espírito colaborativo que parece ser a tônica do cenário da música independente, identificado em organizações como a Rede Ceará de Música (Redecem), o Circuito Fora do Eixo e a Associação Brasileira de Festivais Independentes.


O “Clamor Manifesto”, lançado na Internet para tentar mobilizar contribuições individuais para o evento, representou essa movimentação, reafirmada a todo momento nos discursos dos produtores Ivan Ferraro e Paulo Zé Barcellos Filho. Antes do show de Felipe Cordeiro, por sinal, Paulo Zé fez um apelo ao público e passou pessoalmente o chapéu entre os presentes na Praça Verde.


O evento mereceu inclusive o protesto de alguns músicos cearenses, que circularam com um trio elétrico pelo entorno do Dragão do Mar na noite do último sábado tocando e criticando o modelo de produção da Feira da Música. Daniel Medina, um dos líderes do protesto denominado “Fora da Feira – As sobras da Feira”, por volta das 21 horas, quando o trio cruzou a rua José Avelino, pediu licença ao maestro da Banda do Padre Pio, que tocava no Espaço Rogaciano Leite, e fez discurso sobre o que, segundo ele, seria “a exploração dos músicos pela Feira da Música” ao não pagar cachê, mas apenas uma ajuda de custo que não cobre os gastos dos artistas.


Ao final do evento, chama a atenção não só a qualidade, ou não, das bandas que se apresentaram nos palcos da Feira da Música, mas a natureza do evento de ser um sismógrafo que capta os abalos, cada vez maiores, que estão ruindo a indústria fonográfica das grandes gravadoras ou, melhor, que estão fazendo emergir novas formas de produzir e consumir cultura nos dias de hoje.

Pedro Rocha

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