quarta-feira, 20 de julho de 2011

Últimas chamadas para o Beleléu


foto: divulgação


Independente por necessidade e por opção. Músico experimental, crítico e irônico. Negro, nego dito, de visual deslumbrante, maldito. Com um pé na Vanguarda Paulista e outro na música popular. Mistura africana, brasileira, de lugar nenhum. Gostava de pássaros e plantas, especialmente de suas orquídeas. Não sabia lidar com a vida. Gênio. Só sabia compor, cantar e tocar. Itamar Assumpção é redescoberto no documentário "Daquele instante em diante", de Rogério Velloso. O filme está em cartaz no Espaço Unibanco Dragão do Mar em sessão única e gratuita, às 19h50.

No começo da década de 1980, ele nadou contra a corrente. Lançou seu primeiro disco por conta própria. Paranaense de sangue paulista, Itamar teve que passar por cima de muitos preconceitos. Trazia em sua raça, estilo, performance e sonoridade o que não fora bem visto pelas grandes gravadoras e pela mídia. Diziam que seu som era "difícil". Seu talento, contudo, fez brilhar novos rumos da música nacional. Fez parcerias com Arrigo Barnabé, Alice Ruiz e Paulo Leminski. Sempre transcendente, foi desconhecido e/ou pouco prestigiado em seu tempo.

Por meio de imagens raras e depoimentos de amigos e familiares, o documentário nos reporta o por quê desse fenômeno "maldito da mpb". Aproximamo-nos de um universo que parece realmente guardado no fundo do baú da música brasileira. Sentimo-nos presentes nos bastidores de shows do vulgo nego dito. O que descobrimos é uma verdadeira veia alternativa a todo mercado musical.

Final do período da ditadura militar no país e a música brasileira continuava a explodir com grandes compositores. Em São Paulo, músicos considerados vanguardistas exploravam a música atonal e dissonante. Para Itamar, tudo aquilo foi um aprendizado. Tocou com Arrigo Barnabé, coletou músicos e teve de conquistar seu espaço sem apoio da mídia. Tinha o seu público que começava a lotar pequenos espaços onde tocava. Juntou amigos músicos e conseguiu gravar nada menos do que nove discos por selos independentes.

O filme nos propõe uma discussão enriquecedora sobre o que é ser popular na música. Perguntavam a Itamar quando iria fazer sucesso, ele respondia ironicamente: "eu já faço, sou popular". Se havia um grande desprestígio do músico solo brasileiro, havia também um público sedento pela nova música. Exemplo mais claro foi no lançamento de seu primeiro disco, "Beleléu, leléu, eu" (1980), que vendeu 18 mil cópias, em três meses. Depois vieram viagens para Europa. Itamar chegou a querer mudar de país, devido ao tratamento e valorização que recebeu em terras estrangeiras.

Itamar Assumpção, entretanto, não deixou o Brasil. Amava sua terra, assim como a música e todos com quem compartilhou seus desejos poéticos. Esses eram muitos e mal cabiam em seu corpo. Brincava com palavras e encenava. Da sua cabeça jorravam notas transpostas para baixo e vocais femininos.

O íntimo de uma joia da música nacional está agraciado em "Daquele instante em diante". Sua personalidade forte, sua insistência deve ser um estímulo aos jovens compositores atuais. Itamar é exemplo de doçura e loucura. Um verdadeiro artista que, se desconhecido outrora, tomará conta das mentes que assistirem a esse glorioso conteúdo de imagens e conhecimento.


Trailer




Serviço

Daquele instante em diante
Em cartaz no Espaço Unibanco Dragão do Mar Centro Cultural Dragão do Mar
Av. Almirante Tamandaré, 310
Praia de Iracema
Sessão única, às 19h50
Grátis
Tel.: (85) 3219-2641

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